sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Soneto A Morfeu

Para Flávia Regina


Morfeu, Deus do sono e da noite imperiosa,
Venho vos fazer, humildemente, um pedido;
Morfeu, imperador da noite piedosa
- Trazei-a, que de amores tenho sofrido.

Sei que não é de vosso trato, e sim de Cupido
O ofício da administração amorosa;
Mas Este anda, suponho, um pouco esquecido
Ou artífice de uma festa libidinosa.

À nobre Vênus posso pedir a intercessão,
Porém, Ela não é tão justa ao voto masculino
E tende em tudo impor sua feminina razão.

Entrego a Vós, Morfeu supremo, meu destino
- Melhor o eterno sonho com o ser amado,
Que viver só, no meu mundo despertado.



Adilson hilário

domingo, 29 de agosto de 2010

Adeus, Justine


Adeus, Justine!
Te partes... o mundo não te favorece.
Em um muro branco
Murmuraste um lamento
E segues com a impressão de que não foste ouvida.

Colheste uma rosa,
Plantaste uma árvore,
fizeste versos.. empunhaste na pena
o mal que cerca todos os que nela se apóiam
e compreendeste que para dominar um coração poético
é preciso ouvir mais que dizer..e ouviste!
e te partes.

Adeus, Justine!
Segues teu caminho
Onde nem sempre haverá primavera,
Mas em teu olhar oblíquo
Carregarás lembrança de flores pretéritas.

Não construíste um castelo
- no muito, uma água-furtada,
Mas nesta, fizeste o teu reino
e tentaste te apartar do mundo dos homens,
e não foste solitária suficiente
e os homens subjugaram o teu humilde reino
ao sabor de vilanias inexoráveis
e te partes.

Adeus, Justine!
Escolheste em teu céu cativo uma estrela
Que foi sua guia
E te ouviu quando tu choraste em silêncio
E quando amaste em profusão.
Mas tua estrela se pagou
E tu ficaste desnorteada num céu sem lume.

Amaste muito, e tanto, e desesperadamente!
Escreveste em teu corpo
O mais sublime de teus versos de amor
Para entregar a alguém
Que não a amou suficientemente
Para entender a sua linguagem.
Foste delírios e suplícios de alguém
Mas este alguém também se perdeu
E te partes.


Adeus, Justine!
Proclamaste teu discurso contra tudo e todos
Mas a acharam subversiva ou imoral demais
E te condenaram ao ostracismo
Que silencia todos os inconformados.

Te fizeste poeta obsceno
E cantaste o prazer, o sexo,
O amor desmedido, sem cautelas;
Mas teu amor se esgotou
Na medida em que te entregavas mais que recebias
E te partes.


Adeus, Justine!
Te partes em silêncio,
Mas gratuita, sem outra ilusão
Senão a de ter sido o que melhor pôde ser.

Vais e não levas, Justine
No olhar uma estrela,
Na boca um verso,
No peito um amor;
Levas apenas no teu pensamento
A certeza de que para isto vieste ao mundo
- sonhar, amar, sofrer e partir.



Adilson hilário

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

o poema em Teu corpo

falas com o corpo,
quando escreves e neste escrever
falas serenamente;

escreves com a mente
o que a mão tenta esconder
e quando é chegada a hora do anoitecer,
calas com o verso o que a boca tenta conter...

teu verso fala e é claro esse falar!
sei que me queres contar
que teu corpo não guarda mais tanto querer

e por tanto pensar e sofrer
te queres ocultar numa rima qualquer.

por seres mulher temes a noite volver
o ritmo noturno quando sonhar
é querer se dar menos que receber.

Todo sonhar é um novo acontecer
quando acontece de se perder
na cama de um outro qualquer

que no teu beijo mulher sem pudor
venha morrer de um silencioso querer

nessa dor de se saber objeto
flor aberta a qualquer inseto
que o seu pólen tenta sorver...

te sentes mulher e como quiser
te sentir deverás omitir
em teu verso a magia
de ter entre as pernas a gruta vazia

que deixa de ser sexo para ser poesia

que se entrega numa noite qualquer

por ser menos poema que mulher



adilson hilário

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A Vida

Para Larinha

O Sol renasce a cada dia,
Mesmo que a Manhã não seja clara.
Sempre há uma Lua reluzente no céu,
Ainda que inconfessa por grossas nuvens.
Mesmo de janela fechada,
Sei que uma Rosa se abre
E um Passarinho canta
Ao sabor da Madrugada anunciada.
Na Praia de Copacabana,
O Mar ulula o seu ritmo oceânico,
Independente de o visitarmos ou não.

A Vida segue o seu fluxo constante

A Vida é uma arte, uma contínua encenação,
Indiferente aos nossos aplausos
Ou ao nosso silêncio.


(adilson hilário)

sábado, 31 de julho de 2010

Como seria?

um verso para ti,
como seria?

estrela primeira quando a noite principia
ou rosa rósea rompendo a madrugada fria?

seria como canto de canário
que no céu da tarde contagia?

seria como os olhos do poeta
quando a sua voz silencia

ou os lábios mudos
que se mordem quando o amor se anuncia...?

seria como o vento que varre a rua
sob o olhar de uma linda lua nua...?

um verso para ti,
como seria?

doce como mel misturado com ambrosia
ou olhos embargados pela lágrima fugidia?

um verso, simplesmente
assim, como se de repente
se inventa um poema e sorri!!!

adilson hilário
A Nossa Poesia

para Mel Gusmão


A poesia como como um laço,
como um abraço que se faz mesmo distante.

a poesia que se faz necessária,
quando a alma multifária
busca um novo carinho a cada instante.

A poesia gritada no escuro;
A poesia que suspensa num muro
observa em redor da vizinhança.

A poesia com sorriso de criança,
olhando sem medo para o futuro.

A poesia como um estrela,
escrita no céu ou brilhante num papel,
só para quem pode compreendê-la.

A poesia sem compromisso,
mas que no seu verso submisso
aceita o seu destino de ser poema

e,como uma música serena,
tocada no deserto de nossa vida
quer ser mágica e cai constrangida

no infértil solo do nosso desejo
e é só poesia trocada como um beijo

adilson hilário
Teu Nome

Teu nome curto e lindo,
Como um feixe de luz fina
Pela fresta surgindo

Teu nome curto e puro
Como uma estrela , confina
Seu brilho no cerne do céu escuro

Teu nome como uma canção
Antiga, ensina
Que do nobre amor não se foge à sina

Teu nome como a luz matutina
reluz em meu poema sorrindo
Teu nome – rosa que perfuma

Teu nome lindo - Luma

Adilson Hilário