domingo, 29 de agosto de 2010

Adeus, Justine


Adeus, Justine!
Te partes... o mundo não te favorece.
Em um muro branco
Murmuraste um lamento
E segues com a impressão de que não foste ouvida.

Colheste uma rosa,
Plantaste uma árvore,
fizeste versos.. empunhaste na pena
o mal que cerca todos os que nela se apóiam
e compreendeste que para dominar um coração poético
é preciso ouvir mais que dizer..e ouviste!
e te partes.

Adeus, Justine!
Segues teu caminho
Onde nem sempre haverá primavera,
Mas em teu olhar oblíquo
Carregarás lembrança de flores pretéritas.

Não construíste um castelo
- no muito, uma água-furtada,
Mas nesta, fizeste o teu reino
e tentaste te apartar do mundo dos homens,
e não foste solitária suficiente
e os homens subjugaram o teu humilde reino
ao sabor de vilanias inexoráveis
e te partes.

Adeus, Justine!
Escolheste em teu céu cativo uma estrela
Que foi sua guia
E te ouviu quando tu choraste em silêncio
E quando amaste em profusão.
Mas tua estrela se pagou
E tu ficaste desnorteada num céu sem lume.

Amaste muito, e tanto, e desesperadamente!
Escreveste em teu corpo
O mais sublime de teus versos de amor
Para entregar a alguém
Que não a amou suficientemente
Para entender a sua linguagem.
Foste delírios e suplícios de alguém
Mas este alguém também se perdeu
E te partes.


Adeus, Justine!
Proclamaste teu discurso contra tudo e todos
Mas a acharam subversiva ou imoral demais
E te condenaram ao ostracismo
Que silencia todos os inconformados.

Te fizeste poeta obsceno
E cantaste o prazer, o sexo,
O amor desmedido, sem cautelas;
Mas teu amor se esgotou
Na medida em que te entregavas mais que recebias
E te partes.


Adeus, Justine!
Te partes em silêncio,
Mas gratuita, sem outra ilusão
Senão a de ter sido o que melhor pôde ser.

Vais e não levas, Justine
No olhar uma estrela,
Na boca um verso,
No peito um amor;
Levas apenas no teu pensamento
A certeza de que para isto vieste ao mundo
- sonhar, amar, sofrer e partir.



Adilson hilário

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